quinta-feira, 8 de dezembro de 2011
A culpa é da mãe?
quarta-feira, 2 de novembro de 2011
O poeta e o fantasiar
O poeta e o fantasiar. O desdobramento dos sentidos nos sonho e na poesia.
“Chega mais perto e contempla
as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela
resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?”
Drummond1
Em seu ensaio de 1908 “O poeta e o fantasiar”2, Freud compara os poetas aos sonhadores e suas criações com os devaneios.
O poeta – Dichter, na língua alemã – é aquele que condensa3 (Dichter = condensare), e a condensação é, no sonho, semelhante à metáfora e metonímia da poesia, ou seja, na transformação dos pensamentos oníricos em conteúdo onírico ocorre necessariamente uma compressão de volume, uma condensação, em graus variáveis de um sonho para outro.
Na condensação, segundo Laplanche e Pontalis, “uma representação única representa por si só várias cadeias associativas” e “traduz-se no sonho pelo fato de o relato manifesto, comparado com o conteúdo latente, ser lacônico: constitui uma tradução resumida.” – assim, por exemplo num sonho de Freud, os pensamentos oníricos expressos nas palavras “Autor”, “Autodidakt” e “Lasker” são sintetizados na forma condensada “Autodidasker”, inexistente na língua alemã.
A condensação torna-se possível nos sonhos pelo fenômeno da sobredeterminação, em que diversos pensamentos oníricos encontram sua expressão em um único elemento onírico, ao passo que um mesmo pensamento onírico pode estar expresso em vários elementos oníricos, criando-se entre eles um cruzamento múltiplo, uma trama. O fenômeno da sobredeterminação nos sonhos é análogo ao que ocorre na poesia onde, segundo Jakobson4, “se projeta o princípio constitutivo da equivalência do eixo do paradigma no eixo do sintagma, com a conseqüente explosão da linearidade deste.”, ou seja, onde se pode, com uma palavra, dizer o que ela comumente significa e ao mesmo tempo dar a ela um sentido pouco comum, particular.
Bosi5 acredita que a condensação e o deslocamento descritos por Freud representam um esforço no sentido de demonstrar que uma imagem não se reduz a uma mera expressão de um desejo, mas que trabalha com outras imagens a fim de cumprir o seu destino, ou seja, "exibir-mascarar o objeto do prazer ou da aversão".
Pode-se dizer que a plurissignificação do texto poético corresponde à sobredeterminação de conteúdos latentes no sonho ou devaneio. A metáfora junta em um só elemento (ou imagem) vários conteúdos latentes, o que sugere uma relação com o mecanismo da condensação. Seria possível, ainda, uma aproximação da metonímia, onde a ligação de contigüidade está em evidência, com o deslocamento.
Segundo Freud (1900), faz parte da elaboração onírica o que o sujeito diz sobre seu sonho, a elaboração secundária (processo secundário), suas associações. A elaboração secundária, uma última operação do trabalho do sonho é devida à intervenção do pré-consciente que remaneja o sonho para lhe dar uma "fachada" mais coerente e aceitável. A mesma operação se realiza mais uma vez quando se relata o sonho. E é no relato e na análise do sonho que se torna possível discernir quais elementos se condensaram em uma imagem onírica, e de que desejo essa condensação fala.
Pontalis em “Entre o sonho e a dor”6 toma a idéia da necessidade que continuamos tendo, desde a infância, de fantasiar, de sonhar, e por que não de poetizar?
Concordamos com Gurfinkel7 quando diz: “ É de fato admirável o trabalho que o psiquismo se dá para criar um belo jogo de palavras... ou um belo sonho!”
1ANDRADE, Carlos Drummond. Procura da poesia. In: A rosa do povo. Rio de Janeiro: José Olímpio, 1973.
2FREUD, S. O poeta e o fantasiar. ESB. Rio de Janeiro: Imago, 1980. v. IX
3POUND, Ezra. ABC da literatura. São Paulo: Cultrix, 1997. apud MORAIS, MBL. Poesia, Psicanálise e ato criativo: uma travessia poética. Estudos de Psicanálise. n. 29. Rio de Janeiro.
Pound diz que a poesia é a mais condensada forma de expressão verbal [e que] Basil Bunting, ao folhear um dicionário alemão-italiano, descobriu que a ideia da poesia como concentração é quase tão velha quanto a língua germânica. ‘Dichten’ é o verbo alemão correspondente ao substantivo ‘Dichtung’, que significa ‘poesia’, e o lexicógrafo traduziu-o pelo verbo italiano que significa ‘condensar’.
4Apud Castro, JCL. O inconsciente como linguagem. De Freud a Lacan. Cadernos de Semiótica Aplicada Vol. 7.n.1, julho de 2009.
5 BOSI, A. O ser e o tempo da poesia, 6a. ed., São Paulo: Companhia das Letras, 2000. (p.26)
6PONTALIS, J-B. Entre o sonho e a dor. São Paulo: Ideias e letras, 2005. (p. 49)
7GURFINKEL, D. Sonhar, dormir e psicanalisar: viagens ao informe. São Paulo: Escuta/Fapesp, 2008. (p.306)
sábado, 20 de agosto de 2011
O sonho e a poesia
Pois não é que às vezes sinto-me, lá em minha poltrona, detrás do divã, fazendo poesia...
E não é pelas belas palavras (não se diz poeta aquele que emite belas palavras?) que sim, às vezes até saem, mas é pela coisa de tentar pôr em palavras o pensamento, de tentar tocar o outro com a palavra dita, como se eu pudesse dizer a mais perfeita tradução do que pensei e do que o outro pode compreender, e com isso entrar no universo do outro, fazer parte, transformá-lo. Não será este o anseio do poeta?
A palavra sai tentando se fazer entender, mas sempre falta, sempre deixa brechas... uma ausência que acaba sendo preenchida com sentimentos, lembranças... Porque no que se diz sempre está contido o que não foi dito e nosso desejo completa o dito com o não dito, tampa buracos. Tampa? É de buracos que somos feitos. Não pode ficar o dito pelo não dito, há que se insistir, fazer disso tarefa contínua do dizer-se. Nesse sentido o poeta faz algo muito diferente do analista, o primeiro deixa muitos não ditos, o segundo precisa tudo dizer.
Na incontinência da palavra
ficam buracos,
fica o não dito,
o sentido,
sentimento buscando sentido,
direção,
descarga de libido.
O sonho é uma poesia que ainda está no pensamento, boiando... E no exato momento em que a gente conta um sonho, a imagem, o pensamento, a sensação ganham um tanto de sentido, mas noutro tanto se perdem, viram fumaça. A palavra não pode conter o sonho. Nem a poesia. [talvez]Só a análise.
terça-feira, 7 de junho de 2011
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segunda-feira, 18 de abril de 2011
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quinta-feira, 14 de abril de 2011
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terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
Slavoj Zizek, Freud, Lacan e a realidade do gozo obrigatório
Nasceu em Liubliana, na antiga Iugoslávia (hoje capital da Eslovênia). Doutorou-se em Filosofia na sua cidade natal e estudou psicanálise na Universidade de Paris.
É professor da European Graguate School e pesquisador sênior no Instituto de Sociologia da Universidade de Liubliana. É também professor visitante em várias universidades nos EUA, entre as quais estão a Universidade de Columbia, Princeton, a New School for Social Research em Nova Iorque, e a Universidade de Michigan.
Zizek é conhecido por seu uso de Jacques Lacan numa nova leitura da cultura popular - como por exemplo, Alfred Hitchcock, David Lynch, o fundamentalismo e a tolerância, ideologia e subjetividade em tempos pós-modernos, entre outros.
Em 1990, candidatou-se à presidência da República da Eslovénia, perdeu a eleição e a partir de então continuou dedicando-se exclusivamente a produção intelectual.