quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Terapia, análise, psiquiatra, psicanalista... diferenças, semelhanças...

Há, no meio leigo, muitas dúvidas sobre as diferenças que existem entre terapeuta, psicólogo, psicanalista, psiquiatra, terapia, análise... essas coisas.
Hoje em dia, chama-se terapeuta aquele que fez qualquer formação acadêmica (mais comumente na área de saúde ou assistência social) e depois fez um curso de pós graduação especializando-se em algum tipo de terapia, como por exemplo terapia de casais, hipnoterapia, etc.
Chama-se psicólogo aquele que fez uma faculdade de Psicologia e se filia a um conselho regional dos psicólogos que orienta e dá diretrizes para sua atuação. O psicólogo, se quiser atuar em consultório, pode se especializar em algum tipo de terapia e ser um psicólogo dito clínico e terapeuta.
O psicanalista pode ter feito praticamente qualquer graduação (inclusive Psicologia, então ele será psicólogo e psicanalista), contanto que depois ele faça uma formação em Psicanálise, faça sua análise pessoal, ou seja, tratar-se com um psicanalista, e faça supervisão de seus casos com um analista (ou psicanalista, é a mesma coisa) mais experiente.
O psiquiatra fez medicina e residência em Psiquiatria, ou seja, é um médico psiquiatra.
Todo tratamento com quaisquer um deste profissionais vai se configurar como uma terapia, por seus efeitos pretensamente terapêuticos. No entanto a terapia feita com um psicanalista, irá se chamar análise.
Agora, tratando mais deste termo análise, significa exatamente desdobrar os sentidos e significados, esmiuçar os afetos e os desejos, analisar, o contrário de sintetizar...
É muito comum que psiquiatras e psicólogos recorram à Psicanálise para auxiliá=los em suas clínicas, pois a Psicanálise oferece uma técnica que permite um aprofundamento no sintoma, que muitas vezes é o meio que mais pode se tornar fértil na tentativa de eliminação deste.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

O corpo erógeno na neurose e na perversão

Na psicanálise existe um modelo conceitual que define três estruturas de personalidade, que seria: neurose, psicose e perversão. Cada uma destas estruturas é definida na clínica tendo como base a maneira como o paciente passou pelo Édipo, e portanto, a forma de lidar com a castração.
Grosso modo, na neurose, o indivíduo sabe que existe a castração, mas não a aceita em si, o sujeito tem dificuldades em lidar com a falta e com os seus limites. Na psicose, há a falta da inscrição da experiência de castração, o sujeito não introjeta a possibilidade de castração e de limite, acarretando uma indiferenciação eu-outro. Na perversão, há a recusa da castração, o sujeito acha que pode tudo, que não há limites.
Quando Freud escreve "Os três ensaios sobre a teoria da sexualidade" em 1905, dirá que a neurose é o negativo da perversão, o que significa dizer que no que diz respeito
á sexualidade do neurótico e do perverso, o primeiro recalca aquilo o que o segundo atua.
Estas estruturas psíquicas não são rígidas ou puras no indivíduo, no neurótico podem existir traços perversos e/ou psicóticos, e as mais diversas combinações podem ocorrer.
Interessa-nos neste momento salientar a perversão e o corpo erógeno do perverso.
Para explicar as fases do desenvolvimento sexual infantil, Freud irá dizer que num primeiro momento, a criança funciona de forma auto-erótica e perverso-polimorfa, para depois desenvolver sua sexualidade para narcísica e objetal, no período adulto. Ou seja, primeiro, o corpo é inteiro erógeno, todas as partes do corpo infantil são passíveis de obtenção de prazer, e ao longo do tempo, a tendência é que o sujeito concentre seu erotismo na zona genital.
Ocorre que esta passagem é muito mais teórica do que prática. É claro que a maioria das pessoas na fase adulta não sentirá todas as partes de seu corpo como zonas erógenas, mas também não abandonará por completo algumas zonas estimuladas na infância, e não terá como única zona erógena os genitais.
A partir disso, podemos perceber que o corpo do neurótico e do perverso são semelhantes, guardando a capacidade de erogeneizar várias partes do corpo como coincidência.
Certamente veríamos outros aspectos que diferenciarão o neurótico do perverso, mas há uma possibilidade de enxergar essa semelhança.
Isso se torna claro na clínica e Freud já havia afirmado isso no "caso Dora" quando disse que não conhecemos os limites da vida sexual normal e que portanto, não deveríamos nos referir com indignação às perversões sexuais.