terça-feira, 7 de junho de 2011

Sobre a dinâmica da transferência

"Deve-se compreender que cada indivíduo, através da ação combinada de sua disposição inata e das influências sofridas durante os primeiros anos, conseguiu um método específico próprio de conduzir-se na vida erótica... Isso produz o que se poderia descrever como um clichê estereotípico..." - Freud (1912)

Com esta frase que inicia o texto "A dinâmica da transferência", Freud explicita o mecanismo neurótico da repetição - o clichê estereotípico da vida erótica do indivíduo, para introduzir o conceito de transferência, um fenômeno que então se atualiza e portanto se repete na interação analista-analisando.

Segundo Laplanche e Pontalis, transferência designa em psicanálise "o processo pelo qual os desejos inconscientes se atualizam sobre determinados objetos no quadro de um certo tipo de relação estabelecida com eles e, eminentemente, no quadro da relação analítica." E segue. "Trata-se aqui de uma repetição de protótipos infantis vivida com um sentimento de atualidade acentuada."

Poderíamos dizer que o neurótico só produz a transferência pois de alguma forma busca inconscientemente reviver uma situação infantil, principalmente a ocasião da satisfação plena simbiótica.

Ocorre que a busca incessante e repetitiva do neurótico pela satisfação plena não tem fim, pois não é possível replicar a satisfação primordial. O desejo então não finda. O objeto da pulsão figura como uma eterna miragem. Como aquela caricatura do burro que corre atrás da cenoura presa diante e distante de sua fronte.

Ora, é por isso que na análise, a identificação da transferência permite um manejo técnico onde o analisando terá a oportunidade de romper com a repetição, ou ao menos refletir sobre a iminência da repetição. A análise permite uma não alienação acerca destas repetições e dos seus porquês, o que amplia a condição de liberdade do indivíduo.