quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Reflexões psicanalíticas sobre o filme "Intocáveis"

O filme "Intouchables" de Olivier Nakache e Eric Toledano retrata de forma muito bem humorada a história real da relação entre um homem tetraplégico e seu cuidador.




 
O filme nos põe a pensar em muitas questões, desde a fragilidade do corpo e sua ressignificação pós trauma até a questão racial em sua crueza. No entanto sugiro irmos aqui por um caminho que nos leve a pensar o título do filme: Intocáveis. Algumas cenas são memoráveis, como aquela em que Driss (Omar Sy) derrama água quente nas pernas de Philippe (François Cluzet), como que para se certificar de que Philippe não pode mesmo sentir nada; outra cena é aquela em que Driss toma Philippe nos braços e se põe a dançar com ele, sendo seus braços e pernas. Podemos pensar em como tocar alguém que não pode sentir, mas também como tocar alguém que não se deixava tocar? Alguém que não conseguia uma chance de trabalho, alguém que só precisava de um atestado de que teria estado ali para então continuar recebendo seu auxílio desemprego do governo... Pessoas que estavam acostumadas a não serem tocadas por outras, por não serem vistas como pessoas que pudessem sentir, pessoas intocáveis. Ambos passam a estabelecer uma troca de ordem inicialmente muito prática e superficial, mas que vai se aprofundando e ganhando um sentido bem mais amplo.
O que se percebe ao longo do filme é a intensidade da relação entre os dois, que como numa relação transferencial positiva, permite que se alcance bons resultados na interação, na relação terapêutica... que não é só de Driss com Philippe, mas de Philippe com Driss também. Ambos tocam a vida um do outro de forma indelével.
Philippe não queria mais ser tratado com a assepsia, o desinteresse, a distância de seus cuidadores, e Driss não queria mais passar desapercebido... ele se levanta e não só quer seu atestado, mas quer ser notado, e é!
A interação entre os dois fala de algo extraordinário que é um encontro! Um encontra no outro algo que imprime uma espécie de "sentido da vida"! Nesta interação foi possível um tocar o outro sem preconceitos que se interpusessem na relação, que se impusessem a priori.
Uma das mais belas coisas da vida é esse tipo de encontro!