segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Dizer "não" é amar!

Quando vejo uma mãe que não consegue negar nada ao filho, prevejo um futuro muito infeliz para ele e para ela.
Dizer "não" é amar, mas muitas mães acham que não, que por muitas vezes fazerem o filho chorar, elas podem não estar fazendo bem a ele, mas estão.
O "não" ensina que o mundo impõe limites aos nossos desejos. Filhos que ouvem "não" estão mais preparados às possíveis frustrações que vierem a sofrer, e, cá pra nós, não há quem não as sofra.
O "não" contorna, explica a realidade. Assim como o "sim" acolhe, aconchega, o "não" protege, educa, previne, constrói, desenvolve. Os dois devem estar presentes e devem fazer sentido pra criança, não devem ser contraditórios e o ideal é que pai e mãe ou cuidadores estejam em sintonia quanto ao que merece um "sim" e o que necessita um "não".
O adulto que quando criança só ouviu "tá bom", "pode", "sim", "claro", "meu filho não pode ficar sem", corre o risco de se frustrar de forma muito sofrida diante dos "não posso", "não dá", "agora não", "você está demitido", "vamos terminar". E o curioso é que muitas vezes esse adulto sofrendo de frustração recorre à mãe, que fica desejando resolver as frustrações do filho, emprestando o dinheiro que ele deve ao banco, dando casa, comida e roupa lavada ao trintão desempregado, e por aí vai...
É algo simples, mas que resolve muitas coisas.
Claro que se a mãe está com muitas dificuldades em dizer "não", ela pode estar precisando de uma ajuda profissional, pois pode ser insuportável pra ela ser aquela que vai cortar o barato do filho, ainda que pra fazê-lo feliz no futuro.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

A linguagem dos sonhos

Os sonhos sempre se nos apresentam como um enigma a ser decifrado, nele a linguagem parece desconexa, sem sentido... é necessário um trabalho de análise para compreender o que o nosso inconsciente nos diz.
A interpretação de um sonho é um trabalho que requer associações livres de censura, para aos poucos desvendarmos o desejo encoberto pelas sobreposições de imagens que o sonho traz.
Penso que o sonho é como a linguagem poética, que possibilita inúmeros caminhos de compreensão. Um poema quando é escrito, externa algo muito particular de quem o escreveu, e nem sempre é possível compreender o sentido completo que o escritor quis dar.
Um poema quando é lido, pode gerar no leitor sentimentos e sensações muito diferentes daquelas que sentia o escritor. E cada leitor pode ter uma reação diferente frente àquela linguagem poética.
O sonho permite o mesmo fenômeno. O conteúdo do sonho só pode ser desvendado pelo próprio sonhador, o analista só faz facilitar o caminho. Conteúdos semelhantes em sonhadores diferentes, certamente dizem respeito a desejos diferentes.
Nossa mente é repleta de conteúdos que foram sendo depositados, como um baú velho, precisa ser aberto e mexido, para relembrar, para reencontrar, para reviver e para resignificar.
Finalizo o texto com um pequeno poema, arriscando-me nesta bela linguagem:
Encontro
onde anda lembrança
ontem ainda via
antes à mente vinha
quando virá de novo
o antigo que em mim
habita

PS.: agradeço aos comentários dos textos anteriores, caso desejem, escrevam no e-mail: danismid@usp.br

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Outra personalidade ao volante

Outro dia meu irmão perguntou-me porque algumas pessoas aparentemente tranqüilas se transformam em monstros ao volante. Na hora não refleti sobre o assunto, mas vou tentar algo aqui.
O indivíduo que ao andar nas calçadas esbarra em outro e pede desculpas, quando sentado frente ao volante, enfurece quando um esbarrão ou a possibilidade premente dele ocorre.
Uma das hipóteses é a de que dentro de um veículo, um certo poder é conferido ao indivíduo. Um poder de domínio e controle sobre a máquina, um poder de saber interagir perfeitamente com aquele invólucro metálico, e ainda de saber se movimentar perfeitamente no asfalto. Esse poder não existe no homem despido de uma armadura que esbarra em outro.
Suponho que o homem que é investido desse poder quase bélico e desse pleno saber sobre seu espaço automobilístico se julgue único e além disso perca a noção de que é apenas humano, pois sua armadura metálica torna-se parte de si.
Um homem armado é mais corajoso a enfrentar duelos do que um homem despido de armamento, ou armadura. E não só mais corajoso como mais desafiante.
Um homem corajoso, desafiante, armado, único, quando é desafiado em seu poder por alguma outra máquina que ultrapassa em sua frente, julgando ser ele menor, mais frágil, menos potente, é suficiente para colocá-lo louco para provar sua capacidade sobre-humana.
Este homem-máquina não vê homens despidos de armadura, vê outros homens-máquina que disputam seus espaços, suas colocações nas filas do trânsito, suas acrobacias automobilísticas.
Fora de suas armaduras, voltam a ser cordiais humanos que sorriem ao se esbarrarem, pois sabem-se carne e osso.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

O masoquismo feminino

A saída para a mulher atual parece não mais ser o masoquismo. Esclaresço: Desde Freud pensa-se que a mulher toma uma via masoquista rumo a seu mundo adulto. E dentre outros aspectos do masoquismo, salienta-se que para sair da casa dos pais, haveria de se casar e se submeter a um marido.
A mulher atualmente tem novas possibilidades de rumos e isso gera reflexos na sociedade: a nova estruturação da família, a nuance criada entre o que seja papel feminino e papel masculino, são alguns reflexos dessa nova postura da mulher.
Apesar das novas possibilidades para a mulher, para muitas ainda só é possível a via do masoquismo.
Estas sinceramente vislumbram uma vida feliz ao se imaginarem cuidando do marido e da família que venham a formar, e aos poucos vão se dando conta que se puseram numa armadilha difícil de sair... sem independência e muitas vezes sem estudo suficiente para ter uma alternativa a sua vida de dona-de-casa, elas se vêem atiradas no nada quando sofrem (e a palavra sofrer aqui ganha um sentido especial que é literalizado por elas) um abandono ou perda do marido.
Muitas vezes mesmo se submetendo a maus tratos e humilhações, não vislumbram outro caminho para suas vidas a não ser a permanência no mesmo estado de masoquista.
A construção de uma nova identidade e talvez de uma nova personalidade urge, livrar-se da armadilha e da zona de conforto desconfortável é uma transformação revolucionária muitas vezes necessária para proteger a vida de muitas mulheres..

Acerca da homossexualidade, do travestismo e do transexualismo

Há uma semana o país pôde mais uma vez olhar para a diversidade, e olhando pensar nela.

O que pensaram aqueles que participaram ao vivo engajados politicamente, os que participaram ao vivo curtindo a balada, os que foram só pra olhar de longe, os que só viram pela TV...?

Cada qual viu um recorte do que é o fenômeno, e forma um conceito sobre esse recorte.

Será que foi possível pensar sobre o desejo dessas pessoas? Que como todo mundo, quer viver suas possibilidades de felicidade e satisfação... e que como grupo minoritário luta para se fazer ver como que para instaurar uma marca indelével na sociedade, uma marca necessária para construir o caminho para a realização de seus desejos de felicidade e satisfação... caminho esse tão difícil enquanto ainda for necessária a "passeata gay", enquanto ainda for necessária a luta contra o preconceito.

Mas ainda é necessária!

quarta-feira, 29 de abril de 2009

A influência social redimensiona o psiquismo (?).

As instâncias psíquicas denominadas Id, Ego e Superego, em sua formação, têm aspectos constitutivos e adquiridos, ou seja, pode-se dizer que há algo de originário em nossa mente, mas grande parte desse psiquismo se perfaz ao longo de infinitas interações com os outros e com o ambiente.
Os outros e o ambiente são variáveis impossíveis de controlar.
Quando um casal planeja ter um filho, e sua situação permita esse e outros planejamentos, há freqüentemente o desejo de escolher um futuro para esse filho, e aí começa uma grande empreitada dos pais para tentar controlar as variáveis disponíveis na vida do filho.
Há no mínimo 4 décadas a sociedade vem experimentando as conseqüências da forte inserção da mulher no mercado de trabalho, mulher esta antes incumbida de se casar, ter filhos e cuidar da casa.
Todo esse novo ambiente e essas novas mulheres geram (e aqui a palavra gerar é interessantemente adequada) novos filhos, filhos capazes de novas coisas.
Outro dia uma colega com quem estudei disse-me que uma de suas aluninhas de 3 anos perguntou o seguinte: - Fabi (esse é o apelido de minha colega), porque o papai não tem xoxota?
E essa pergunta, podendo parecer simples e desimportante, é um marco social. Explico.
Desde Freud acredita-se que a menina, em seus 5 anos mais ou menos, passa por uma fase em que percebe que seu amiguinho tem pipi e ela não tem. Ou seja, instaura-se na menina a falta, a percepção de que falta algo nela.
No entanto, na situação contada acima, a menina percebe a falta no menino (no pai).
Isso tudo faz pensar que a nova mãe de hoje pode (às vezes sem querer) incluir variáveis na vida da filha que a coloque numa situação de não falta, mas de positividade, de completude.
Há muito o que se pensar a respeito dessa situação, dessa nova geração que talvez possa ter seu psiquismo redimensionado pelas novas influências sociais.