terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

O corpo erógeno na neurose e na perversão

Na psicanálise existe um modelo conceitual que define três estruturas de personalidade, que seria: neurose, psicose e perversão. Cada uma destas estruturas é definida na clínica tendo como base a maneira como o paciente passou pelo Édipo, e portanto, a forma de lidar com a castração.
Grosso modo, na neurose, o indivíduo sabe que existe a castração, mas não a aceita em si, o sujeito tem dificuldades em lidar com a falta e com os seus limites. Na psicose, há a falta da inscrição da experiência de castração, o sujeito não introjeta a possibilidade de castração e de limite, acarretando uma indiferenciação eu-outro. Na perversão, há a recusa da castração, o sujeito acha que pode tudo, que não há limites.
Quando Freud escreve "Os três ensaios sobre a teoria da sexualidade" em 1905, dirá que a neurose é o negativo da perversão, o que significa dizer que no que diz respeito
á sexualidade do neurótico e do perverso, o primeiro recalca aquilo o que o segundo atua.
Estas estruturas psíquicas não são rígidas ou puras no indivíduo, no neurótico podem existir traços perversos e/ou psicóticos, e as mais diversas combinações podem ocorrer.
Interessa-nos neste momento salientar a perversão e o corpo erógeno do perverso.
Para explicar as fases do desenvolvimento sexual infantil, Freud irá dizer que num primeiro momento, a criança funciona de forma auto-erótica e perverso-polimorfa, para depois desenvolver sua sexualidade para narcísica e objetal, no período adulto. Ou seja, primeiro, o corpo é inteiro erógeno, todas as partes do corpo infantil são passíveis de obtenção de prazer, e ao longo do tempo, a tendência é que o sujeito concentre seu erotismo na zona genital.
Ocorre que esta passagem é muito mais teórica do que prática. É claro que a maioria das pessoas na fase adulta não sentirá todas as partes de seu corpo como zonas erógenas, mas também não abandonará por completo algumas zonas estimuladas na infância, e não terá como única zona erógena os genitais.
A partir disso, podemos perceber que o corpo do neurótico e do perverso são semelhantes, guardando a capacidade de erogeneizar várias partes do corpo como coincidência.
Certamente veríamos outros aspectos que diferenciarão o neurótico do perverso, mas há uma possibilidade de enxergar essa semelhança.
Isso se torna claro na clínica e Freud já havia afirmado isso no "caso Dora" quando disse que não conhecemos os limites da vida sexual normal e que portanto, não deveríamos nos referir com indignação às perversões sexuais.


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