domingo, 14 de julho de 2013

O desejo

É o desejo, muito mais que a disciplina, que move o indivíduo.
Sandra Edler

Quando assisti esta semana o documentário sobre Hannah Arendt, dentre uma série de mobilizações internas, que certamente passaram pelas implicações da banalização do mal,  uma delas versou sobre o desejo, o meu e o de Hannah.

Primeiro subitamente desejei saber mais sobre a vida de Hannah, sobre a primeira e segunda guerras, sobre Eichmann, sobre a história judaica e sobre o nazismo; em segundo lugar percebi que a forma como ela conduz sua escrita, o tempo que ela leva para deixar sair seu texto, de modo que uma das editoras do New Yorker disse: “Tolstói escreveu Guerra e Paz nesse tempo”, me fez crer que o que a movia era certamente o desejo e não a disciplina.

Eu nunca tive tanto interesse, desejo, por compreender melhor alguns aspectos e minúcias do que envolve a relação entre judeus e nazistas na segunda guerra, tema obrigatório de estudo para conhecimentos gerais, para vestibular, quanto agora... Pois é... nunca me movi para saber mais até ver este filme.

Tinha desde maio, possivelmente, a edição da Serrote em minha cabeceira, aquela que traz em sua capa um detalhe da arte de Eugenio Hirsch do livro O grande Gatsby, um dos que ainda não tive desejo de ler, ou ver o filme com o Di Caprio. Enfim... tinha esta edição com uma marcação num texto de Didi-Huberman, e a marcação estava ali, para ser o próximo texto a ser lido obrigatoriamente, por ser Didi-Huberman, mas eu não lia, nem sabia bem do que iria se tratar, afinal, o título era “Cascas”.

Hoje devorei Didi-Huberman, peguei, depois de ter lido ininterruptamente conteúdos de almanaque como a parte das grandes guerras do Atlas da História do Mundo da National Geographic e a Super Interessante, série grandes mistérios, sobre o nazismo. O texto de Didi-Huberman era sobre Auschwitz-Birkenau.

E me alimentou... O filósofo, depois de citar um trecho de O despovoador, de Samuel Becket, expõe, com muita delicadeza e profundidade, aquilo que se pode ver ainda onde supostamente não há mais nada a ser visto, lança um olhar arqueológico, mediado pela lente de sua câmera, sobre um local que lembra e tenta esquecer o horror. Escreve com toda poesia...

O que move a escrita dele, a de Hannah e a minha, deste texto, é o desejo.


Que desejo te move?

Um comentário:

Lúcia Paiva disse...

Dani, que texto inspirador! Curto e motorizante. Beijos e obrigada!! Continua a escrever mais posts!!!! (desejo de ler mais textos seus)!