segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Os limites do reconhecimento: uma reflexão da teoria honnethiana na prática da reabilitação física

Neste sábado, Filipe Campello, graduado, mestre e doutor em Filosofia, este último pela Goethe-Universität Frankfurt (2013) com orientação de Axel Honneth, visitou o Laboratório de Teoria Social, Filosofia e Psicanálise da USP para falar um pouco sobre a teoria de Axel Honneth.

O filósofo alemão atualmente é diretor do Instituto de Pesquisas Sociais da Universidade de Frankfurt e faz parte do que se pode chamar terceira geração da Escola de Frankfurt, tendo sido assistente de Habermas, da segunda geração. 

Honneth, com sua teoria do reconhecimento, pretende compensar o que chamou de déficit sociológico presente na teoria crítica dos filósofos de primeira e segunda geração da Escola de Frankfurt, e o faz desdobrando as ideias de luta por reconhecimento e sofrimento de indeterminação que sinteticamente definem que a liberdade dos indivíduos só é possível nas instituições cujas práticas normativas garantem um reconhecimento recíproco. Será?

Filipe parece considerar que no lugar de uma gramática moral dos conflitos sociais, como Honneth aponta ser a luta por reconhecimento, haveria uma gramática dos afetos para as demandas por reconhecimento, que perpassa todas as esferas de demanda por reconhecimento, seja da família, do estado ou da sociedade civil, como uma espécie de sentimento de não reconhecimento. 

A partir do pensamento nos afetos envolvidos na demanda por reconhecimento, abriu-se espaço para uma apreciação crítica da teoria honnethiana, considerando duvidoso que possa haver plena liberdade após o reconhecimento em todas as três esferas da eticidade: família, estado e sociedade civil, ou seja, Honneth, em sua teoria, afirmando que poderia haver esta liberdade, como se pudesse haver um sentimento de total completude e satisfação, não deixa espaço para o negativo, o sentimento de falta constitutiva, o sentimento de indeterminação que então não cessa, ponto tão conhecido da psicanálise.


Mas pensando em transpor a teoria para a prática, na palestra de Filipe Campello uma inquietação me tomou... Fiquei interessada em desdobrar a questão da instituição como uma via facilitadora do reconhecimento, e pensando no exemplo radical e quase caricato da teoria, teríamos uma instituição de reabilitação física como lugar de reconhecimento e os pacientes desta instituição como aqueles que sofrem com o sentimento de indeterminação em seu extremo e lutam por reconhecimento.

No entanto fiquei pensando no problema ou nos limites do reconhecimento, quando de saída, o paciente que busca uma instituição de reabilitação física lida com o que vou chamar de um sentimento de hierarquia (bem diferente do sofrimento de indeterminação), como se ele justamente por demandar reconhecimento, enfraquecesse esta possibilidade logo de saída. Há uma espécie de sentimentos de gratidão e passividade no paciente que entra na instituição movidos exatamente pela sensação de raridade de lugar de reconhecimento, e o trabalho do psicólogo, além de ser o de facilitar a elaboração do luto pela perda de um membro ou dos movimentos, e o de facilitar uma nova identidade, deve ser também o de estimular uma conscientização e uma atividade político-social, no sentido de esclarecer direitos e lugar social, trabalho árduo. 

Penso também que no momento da alta, o paciente tem que retornar exclusivamente para a sociedade que, no limite, não o reconhece, justamente pelos poucos locais em que o indivíduo com deficiência física pode transitar e sentir que tem os mesmos direitos que os cidadãos que não têm deficiência física. Como se só a instituição de reabilitação operasse na possibilidade de reconhecimento, se é que se pode falar que há reconhecimento na instituição, como eu dizia acima.

Ou seja, para além dos limites da prática, da quase impossibilidade de efetivar e dar conta das liberdades sociais e jurídicas dos indivíduos, deve-se pensar nos limites constitutivos dos indivíduos, na falta constitutiva, psíquica.

Enfim, acho importante o debate para que a teoria fortaleça a prática e vice-versa.


sábado, 27 de julho de 2013

Sobre o filme "Dans la maison"

Um filme de François Ozon, adaptado da peça de Juan Mayorga, dramaturgo, matemático e professor de filosofia espanhol, "El chico de la última fila".
Os personagens principais são o professor de francês e literatura francesa Germain (Fabrice Luchini), sua esposa curadora de uma galeria de artes Jeanne (Kristin Scott Thomas), Raphael Artole pai (Denis Mènochet), Raphael Artole filho (Bastien Ughetto) e Esther Artole (Emmanuelle Seigner) - a família de classe média, e Claude Garcia (Ernst Umhauer) - o aluno da última fila.
O Liceu Gustave Flaubert, a casa dos Artole, a casa de Germain e Jeanne, e a galeria de artes Labirinto do Minotauro são os cenários principais.
Germain é nitidamente um professor entediado com seu cotidiano, dizendo que passou as férias lendo Schopenhauer e reclamando para a esposa que pegou a pior das classes para lecionar.
Algo de curioso é a tarefa que Germain passa aos seus alunos, ele pede que os adolescentes de 16 anos descrevam 48 horas de seus fins de semana, o que sugere um aspecto voyeurista de Germain, e é com enorme satisfação que dentre uma pilha de redações sem conteúdo algum, Germain lê a descrição de Claude sobre seu fim de semana na casa dos Artole.
Claude Garcia consegue a atenção e desperta a curiosidade de Germain não só com sua audaciosa descrição dos costumes provincianos da família de classe média, mas também com a instigante palavra ao final da redação: continua...
Germain, sob o apelo do professor, do maestro, incita Claude a melhorar sua escrita, ganhar estilo, desejando sempre mais dos cada vez mais bem escritos capítulos realistas de seu aluno. Claude, por sua vez, segue à risca as orientações do professor de quem recebe livros emprestados de sua biblioteca particular em troca de mais capítulos. Ocorre aqui uma espécie de relação de servidão, ou de sadomasoquismo em que ora Claude é achincalhado com as críticas mordazes de seu algoz e mantém-se satisfazendo-o com sua escrita, ora Germain é criticado profundamente nas narrativas de Claude e se mantém fiel leitor da novela de seu aluno.
Uma certa perversão perpassa todo o filme, seja pelos olhares voyeurs de Claude dirigidos à mãe de Rapha, e depois à mulher de Germain, seja pela relação quase incestuosa que vai se criando entre os amigos-irmãos Claude e Rapha, seja pela relação incestuosa-sado-masoquista entre Germain e Claude, ou ainda pela presença simbolicamente incestuosa no nome de pai e filho.
Em dado momento, Claude revela que escolhera Rapha para entrar em sua casa pois notara que na saída do colégio, os pais de Rapha sempre o esperavam de mãos dadas... E aí desdobra-se a razão pela qual Claude desenvolve este interesse pela vida do colega... Não fosse pelo prazer que o colorido da vida dos outros dá a Claude, ele teria a triste rotina de levantar, pôr seu uniforme, tirar o pai paraplégico da cama e colocá-lo em sua cadeira de rodas, e seguir o dia de forma completamente enfadonha e difícil.
Em meio a tudo isso, Germaine vai à galeria onde sua esposa expõe trabalhos com o tema "a ditadura do sexo", sexo que Germaine e Jeanne param de fazer quando se entretêm com os capítulos de Claude, direcionando sua libido para esta atividade escopofílica... sexo que Esther faz sem nenhum gosto com Raphael pai, exemplificando momentos em que seja na presença ou ausência do sexo, ele parece não ter sentido nem em um nem em outro casal. 
Os casais Jeanne-Germain e Esther-Raphael pai movem-se de formas diferentes com a presença de Claude, mas assim como um filho suscita diferentes movimentos quando se põe entre diferentes tipos de pais.
A quarta perede teatral se faz presente ao encerrar de cortinas final...
Afinal... a literatura, o cinema, o teatro, as séries de TV, as fofocas, entre poucas outras coisas, cumprem também a função de servir de meios para estar dentro de outras casas, espiar buracos de fechaduras, ser o mosquito em meio a diálogos... O voyeurismo surge desde o momento infantil em que queremos saber o que ocorre entre as quatro paredes do quarto para onde nossos pais vão sozinhos todas as noites...






quarta-feira, 17 de julho de 2013

Entre a individualidade e a interação


Na esteira do trabalho psicológico ou psicanalítico, um tema que insiste em surgir é a oposição entre a individualidade, individuação, egoísmo, de um lado e a interação, influência mútua, altruísmo de outro.

Na relação com o outro, dentro de nossas possibilidades, ora podemos construir nossa individuação (feliz termo junguiano), ora operamos a construção da interação com o outro.

Esta interação se dá de forma necessária, seja do ponto de vista ôntico ou ontológico, seja do ponto de vista do desenvolvimento neuropsicomotor de uma criança ou do desenvolvimento emocional do adolescente, do adulto, do idoso... Não há como se furtar à interação, precisamos do outro, desejamos o outro, desejamos que o outro nos deseje, precisamos contar quem somos e ouvir exemplos de quem os outros são e como vivem, e por aí vai...

O discurso capitalista moderno, no entanto, com seus produtos tamponadores da falta (desde o banal chocolate até a mais elaborada boneca inflável), substituidores da presença do outro (siri fala com você), nos põe em contato com uma suposta “independência”, pois quanto mais “independente” for o sujeito, mais ele consome estes tamponadores e substituidores. Sob o discurso da independência e da auto-suficiência, muitas pessoas vivem vidas isoladas de uma interação.

Este exemplo não está só em pessoas que passam horas em frente ao computador sem falar ou ver ninguém, isto se inscreve nas relações humanas superficiais, onde o outro também é colocado no lugar de objeto tamponador, produto substituível, por ser igual a uma série de outros consumidores desenfreados, com o mesmo corte e tom de cabelo, com as mesmas roupas e os mesmos pensamentos.

O consumo degrada as relações, torna superficiais as emoções. É comum a intolerância com o outro, e o desejo de que o outro supra minhas necessidades, como um produto o faria, como vemos nas conversas entre casais, assunto de que tratou Christian Dunker em seu artigo Diálogos impossíveis da última Mente & Cérebro, chamando a atenção, entre outras coisas, para situações discursivas patológicas em que há uma grande alienação discursiva entre os integrantes do casal, um levando o outro a dizer sempre mais uma vez algo que machuca, que corrói. Há, no cerne destes diálogos perversos, uma cobrança sobre o outro, uma incapacidade de lidar com as falhas de si e do outro, um inconformismo com o fato de que não se pode ser ou ter tudo, uma esperança de que uma discussão possa sanar aquilo que o outro não me dá. Ou seja, há nesses diálogos, uma perversa cobrança de que o outro seja o objeto que me satisfará. E ao tratar o outro como objeto, o discurso patológico não leva a nada.

Em um artigo da Cult de junho, Vladimir Safatle contrapõe dois conceitos, a ocorrência e o acontecimento, explicando que a ocorrência seria tudo aquilo que é vivido sem intensidade, sem profundidade, como que pra preencher a vida, pra colorir o dia-a-dia, enquanto que acontecimentos seriam fatos marcantes, ambivalentes, que produzem angústia, sonhos, memórias corporais. Safatle evoca e complementa Hegel dizendo: “Hegel dizia que os momentos de felicidade são páginas em branco na história. Talvez seja o caso de completar afirmando que só os neuróticos querem uma vida feliz, com sua história desprovida de acontecimentos. Para além de uma vida feliz, há uma vida plena, que é algo outro.”

Em ambos os artigos, tanto na ideia de não entrar em uma desagregação da retórica amorosa, quanto na ideia de vivenciar acontecimentos que produzem profundidade de emoções, está contida a ideia de uma existência autêntica, e também a ideia de constituição do sutil equilíbrio entre a individualidade e a interação.

Penso que a despeito de a neurose provocar por si só o sentimento ou a necessidade de que o outro me complemente, a vontade de que haja algo para suprir minhas faltas, a lógica ou a gramática do discurso capitalista enfatizam e ampliam a força deste aspecto neurótico, ou até promove a transformação em algo perverso, entrando na chave da objetificação, dessubjetivação, da inautenticidade. É com esse discurso que abre-se a possibilidade de que o ser humano seja só mais um, como tantos outros, seja só número, não tenha individualidade, profundidade, seja, em última instância substituível, quase sem valor.

É necessário e urgente ver a importância da interação saudável, da busca de si, da recusa de se tornar massa. É necessário trabalhar a potência de se engajar em eventos que podem provocar sentimentos de angústia, de ambivalência, de falta, para que haja força suficiente para mudanças tanto internas e individuais, quanto sociais.

 

domingo, 14 de julho de 2013

O desejo

É o desejo, muito mais que a disciplina, que move o indivíduo.
Sandra Edler

Quando assisti esta semana o documentário sobre Hannah Arendt, dentre uma série de mobilizações internas, que certamente passaram pelas implicações da banalização do mal,  uma delas versou sobre o desejo, o meu e o de Hannah.

Primeiro subitamente desejei saber mais sobre a vida de Hannah, sobre a primeira e segunda guerras, sobre Eichmann, sobre a história judaica e sobre o nazismo; em segundo lugar percebi que a forma como ela conduz sua escrita, o tempo que ela leva para deixar sair seu texto, de modo que uma das editoras do New Yorker disse: “Tolstói escreveu Guerra e Paz nesse tempo”, me fez crer que o que a movia era certamente o desejo e não a disciplina.

Eu nunca tive tanto interesse, desejo, por compreender melhor alguns aspectos e minúcias do que envolve a relação entre judeus e nazistas na segunda guerra, tema obrigatório de estudo para conhecimentos gerais, para vestibular, quanto agora... Pois é... nunca me movi para saber mais até ver este filme.

Tinha desde maio, possivelmente, a edição da Serrote em minha cabeceira, aquela que traz em sua capa um detalhe da arte de Eugenio Hirsch do livro O grande Gatsby, um dos que ainda não tive desejo de ler, ou ver o filme com o Di Caprio. Enfim... tinha esta edição com uma marcação num texto de Didi-Huberman, e a marcação estava ali, para ser o próximo texto a ser lido obrigatoriamente, por ser Didi-Huberman, mas eu não lia, nem sabia bem do que iria se tratar, afinal, o título era “Cascas”.

Hoje devorei Didi-Huberman, peguei, depois de ter lido ininterruptamente conteúdos de almanaque como a parte das grandes guerras do Atlas da História do Mundo da National Geographic e a Super Interessante, série grandes mistérios, sobre o nazismo. O texto de Didi-Huberman era sobre Auschwitz-Birkenau.

E me alimentou... O filósofo, depois de citar um trecho de O despovoador, de Samuel Becket, expõe, com muita delicadeza e profundidade, aquilo que se pode ver ainda onde supostamente não há mais nada a ser visto, lança um olhar arqueológico, mediado pela lente de sua câmera, sobre um local que lembra e tenta esquecer o horror. Escreve com toda poesia...

O que move a escrita dele, a de Hannah e a minha, deste texto, é o desejo.


Que desejo te move?

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Reflexões sobre a homossexualidade - Entrevista




        1 - De que forma você acredita que o desenquadre nosológico da OMS 1975 afetou os homossexuais? (Souza, Miriam Isabel de. Ed. 2002). 
A história mostra que a homossexualidade já foi e ainda é encarada de diversas maneiras dependendo da época e do grupo social em que ocorre, ora tendo um caráter natural dentro da cultura, ora sendo reprovada.
Penso que o desenquadre nosológico da OMS que retirou o homossexualismo (nomenclatura utilizada à época) da lista internacional de doenças em 1975, é uma conquista importante de uma antiga luta de muitos grupos sociais de homossexuais que já tinham se organizado para defender uma posição social que não os inferiorizasse ou discriminasse, mas não foi a culminação desse processo, pois muito ainda teve que ser e ainda há que se elaborar socialmente para que as pessoas de inclinação homoafetiva possam deixar de sofrer discriminação.
O desenquadre nosológico afetou as pessoas de inclinação homoafetiva certamente não no sentido de que só então elas deixaram de ser discriminadas, porque não foi isso que ocorreu, mas no sentido de certificar que seu posicionamento social forte e organizado pode influenciar organizações que exercem um poder de ditar parâmetros de normalidade / doença, a ponto de movê-los a se reposicionar.

            2 - Você concorda com a resolução CFP 01/99 de 22/03/1999 da questão da orientação sexual?
Art. 3° - os psicólogos não exercerão qualquer ação que favoreça a patologização de comportamentos ou práticas homoeróticas, nem adotarão ação coercitiva tendente a orientar homossexuais para tratamentos não solicitados. Por quê? ( Souza, Miriam Isabel de. Ed. 2002).
Concordo. Pois não há sentido algum em alguém, sobretudo o psicólogo, favorecer a patologização de algo que não é patológico; e também não faz sentido coagir alguém a se tratar sem que ele solicite tratamento, muito menos para algo que não precisa ser tratado (eliminado).
O que ocorre é que muitos psicólogos que têm em sua vida privada posicionamentos discriminatórios em relação a práticas homoafetivas ou homoeróticas acabam por deixar que isso atravesse o momento terapêutico de forma nociva, tentando forçar algo que o paciente não solicitou, não precisa nem deseja. Então o órgão que rege a profissão, neste caso do Conselho Federal de Psicologia, deve fazer o papel de parametrizar o papel do profissional.
Claro que exatamente pelo fato de a sociedade ainda não ter uma opinião homogênea de aceitação e naturalização da homossexualidade, muitos homossexuais vêm aos consultórios às vezes querendo eliminar o desejo homoafetivo de suas vidas, e muitas vezes é preciso um trabalho muito cuidadoso tornar o próprio sujeito capaz de discernir se o que ele quer não é fugir de seu próprio desejo para satisfazer o desejo de seu meio social.

          3 - Em segundo lugar constatava-se a dificuldade dos clientes de falarem do homossexualismo dizendo que era ela os homens, que de fato reprimiam. Embasado neste texto você acredita que hoje ainda há tão forte repressão como a que Freud descreve? (Costa, Jurandir Freire. Ed. 1995).
Dependendo do contexo social, pode haver maior ou menor repressão em relação à homossexualidade, pois um dos fatores determinantes da repressão é a aceitação social. O que é reprimido são conteúdos inaceitáveis ou indesejáveis para a consciência, e esta se forma através da interação com o contexto social, da relação entre indivíduo e grupos sociais, sejam estes a família, a escola, a igreja, os amigos, etc.
Pode-se dizer que há menos motivos para repressão de conteúdos psíquicos que remetam a desejos homoafetivos hoje em dia, pois a homoafetividade é mais aceita socialmente, no entanto não se pode generalizar isso, pois, como já foi dito anteriormente, muitos contextos sociais ainda discriminam essa inclinação, produzindo nos sujeitos que a têm um conflito que torna necessária sua repressão em seus psiquismos.
                                   
I           4 - Ainda utilizando as informações da questão acima.
Quais os danos psicológicos causados pela repressão? (Costa, Jurandir Freire. Ed. 1995).
É através da repressão, entre outros processos psíquicos, que se dão os sintomas, ou seja, um sintoma é ocasionado pela repressão, sendo um substituto de uma satisfação pulsional.
A repressão é um mecanismo que deve existir para que possamos viver em sociedade, pois se satisfizéssemos todas as nossas exigências e desejos inconscientes, haveria muitos conflitos interpessoais. A repressão serve para conter certos impulsos e também conteúdos que são conflitivos para o indivíduo, no entanto esse mecanismo não é de todo eficiente e a energia não descarregada numa satisfação libidinal gerará sintomas psíquicos ou corporais, que são muitas vezes danosos.
Os danos produzidos por esse mecanismo podem ser de ordem psicossomática, conversiva, etc.

5 - Segundo Navarro-Swain, para Freud, a sexualidade normal seguiria um caminho evolutivo em fases: Anal, oral, genital, da infância ao estagio adulto. Se há uma pausa significativa nesse crescimento, isso designaria um desvio ou fixação anormal em estágios anteriores à sexualidade adulta. Assim, os/as homossexuais estariam vivendo uma fase anterior ao pleno desenvolvimento sexual. O que você poderia me dizer referente a esta afirmação? (Navarro-Swain, Tania).
        Freud assumiu diversas posturas diante do tema da homossexualidade em sua vasta obra teórica, e se fôssemos comparar cada uma, encontraríamos até alguns pontos contraditórios, pois Freud mudou muito sua teoria ao longo do tempo, mantendo muitos pontos e modificando tantos outros.
          No que diz respeito à homossexualidade, Freud nos “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”, tece considerações sobre a bissexualidade inata, afirmando que nascemos com uma tendência à bissexualidade e ao longo de nosso desenvolvimento, ou a heterossexualidade ou a homossexualidade será reprimida. Essa repressão ocorrerá conforme o código moral de cada local e época.
            E em 1935, Freud respondendo a uma mãe norte-americana que pede auxílio sobre seu filho, diz:
“Eu creio compreender após ler sua carta que seu filho é homossexual. Eu fiquei muito surpreso pelo fato de que a senhora não mencionou esse termo nas informações que deu sobre ele. Posso eu, vos perguntar por que evitou esta palavra? A homossexualidade não é evidentemente uma vantagem, mas não há nada do que sentir vergonha. Ela não é nem um vício, nem uma desonra e não poderíamos qualificá-la de doença. (...) Muitos indivíduos altamente respeitáveis, nos tempos antigos e modernos foram homossexuais (Platão, Michelângelo, Leonardo da Vinci, etc). É uma grande injustiça perseguir a homossexualidade como crime e também uma crueldade.” (Freud, 1935/1967, p.43).

          6 -  Freud usava o substantivo homossexual conforme linguagem corrente admitindo nitidamente a crença na existência de uma personalidade ou identidade homossexual teoricamente não problemática. Com base nessa afirmação você pode dizer qual é a visão da psicanalise atualmente? (Costa, Jurandir Freire. Ed. 1995).
É exatamente essa: a homossexualidade não é um “problema”, a não ser que o homossexual julgue-a ser um “problema”. Neste último caso, o fator determinante desse parecer é frequentemente a dificuldade em encontrar aceitação social.

7 - Ainda utilizando os dados da questão acima, o homossexual é uma personalidade ou faz parte da personalidade? (Costa, Jurandir Freire. Ed. 1995).
            Nem uma coisa nem outra, necessariamente... Mas estaria mais correto pensar que o desejo por uma pessoa do mesmo gênero pode fazer parte da personalidade de uma pessoa.

     8 - Segundo o Livro Orientação Sexual em algumas culturas à pratica homossexual não implica na homossexualidade, tanto que após uma determinada idade o homem se casa com uma mulher. Que consequências esta ação pode trazer psicologicamente a um individuo?
            Tudo depende do código moral e das construções identitárias sociais de cada época e lugar. Essa prática pode ser completamente bem aceita num dado local e época e não gerar absolutamente conflito psíquico algum, conflito esse que pode surgir se for imposto como regra e o indivíduo não desejar isto.
           
              
           9 -  De fato, nenhuma das teorias existentes sobre as causas de Homossexualidade nos convence e a nossa tendência é de tratá-las todas, sem exceção, como produções ideológicas. (Peter Fry, Edward MacRae).
Você concorda com esta afirmação? Por quê?
Sim, pois sempre será uma explicação que reflete as concepções de uma época e um lugar, além do que uma ideologia se presta a uma espécie de dominação, e isso no seguinte sentido: o fato de se propor a explicar ou encontrar causas para algo como o comportamento e o desejo homoafetivo é em si uma tentativa de fazer uso de um argumento para atuar sobre a homossexualidade, ou seja, de exercer um poder sobre um indivíduo ou grupo a partir de uma ideia muitas vezes falaciosa e perniciosa.