terça-feira, 1 de julho de 2008

Desvios sexuais: aspectos históricos

Krafft-Ebing, um psiquiatra alemão, foi o primeiro autor a descrever de maneira sistemática sobre os transtornos relacionados à sexualidade humana em 1886, e juntamente com Havellock Ellis e Moll, considerava como perversa toda ativação do instinto sexual que não fosse voltada à reprodução e segundo ele, o transtorno existe quando o comportamento sexual é excessivo e perigoso para o indivíduo, ou quando o impulso sexual se torna excessivo e exclusivo, causando sofrimento. Essa concepção de transtorno sexual permanece até os dias atuais.
O autor W P de Silva salienta que foi só na segunda metade do século XIX que as variações sexuais começaram a ser extensivamente discutidas na literatura clínica.
No início do século XX temos uma obra de referência indiscutível em 1905, ‘Três ensaios sobre a teoria da sexualidade’, de Freud, onde no primeiro ensaio, de título ‘as aberrações sexuais’, ele critica a opinião popular e científica da época segundo as quais a homossexualidade e outras perversões teriam uma causa orgânica constitutiva ou seriam resultado de uma degeneração mental. Neste texto, Freud cita diversas vezes os sexólogos da época, como Krafft-Ebing e Havelock Ellis, e ineditamente relaciona a sexualidade desviante da sexualidade dita ‘normal’ quando:
- Aproxima a homossexualidade à heterossexualidade introduzindo a idéia da ‘bissexualidade inata’, que seria a coexistência de tendências femininas e masculinas na infância de todo indivíduo, ou seja, uma predisposição de todo ser humano à bissexualidade.
- Aproxima a perversão à meta sexual genital quando desvenda a sexualidade infantil e toma toda criança como um ‘perverso polimorfo’, ou seja, as partes do corpo da criança são altamente erotizadas, e segundo o autor, um adulto perverso seria aquele que permaneceu fixado a um desses componentes parciais da sexualidade infantil.
Na segunda metade do século XX, Kinsey teve fundamental importância nessa discussão, pois até a publicação de ‘O comportamento sexual do homem’ em 1948, considerava-se natural somente a heterossexualidade e o estímulo exclusivo dos órgãos genitais na relação sexual. A revelação de Kinsey sobre a ocorrência de diversas práticas sexuais entre os americanos, influenciou intensamente o meio científico, e as discussões se acirraram acerca dos limites entre normalidade e patologia sexual.
Percebe-se então que sempre houve uma preocupação da sociedade acerca da sexualidade e das diferentes formas como ela se apresenta nas pessoas, e o desejo de agrupar as pessoas de acordo com a semelhança de seus comportamentos. Isso se refletiu na medicina psiquiátrica que se mantém atenta às diferentes manifestações comportamentais dentro da sociedade, e proporciona uma ampla, constante e dinâmica discussão para encontrar melhores formas de abordar a doença. Dessas discussões, surge a necessidade de concentrar em um manual aquilo o que se estipulou como parâmetros entre a normalidade e a patologia, e estes também têm mudado, assim como a sociedade.

Um comentário:

Anônimo disse...

parâmetros mudando sempre, claro. mas, sabe, uma coisa me surpreedeu ultimamente. tudo o que se diz sobre a prática totalmente livre do homoerotismo na roma e grécia antiga fica meio comprometido quando estudamos, por exemplo, a cerâmica grega. há pouquíssimos vasos com motivos homossexuais, uma amostra percentual mínima. que coisa. olha, teu texto é ótimo.