segunda-feira, 9 de agosto de 2010

"Eu me torno gay ou lésbica se fiquei com alguém do mesmo sexo?" - anônimo

Esta pergunta feita freqüentemente em consultórios demonstra o receio que os jovens de 13 a 23 anos têm de serem colocados definitivamente numa espécie de categoria sexual.
Existe um grande medo de ouvir e seguir os próprios desejos se esses desejos são ainda mal compreendidos socialmente.
É muito natural que em algum momento da vida uma pessoa sinta atração sexual, desejo por outra pessoa do mesmo sexo. Isso pode acontecer uma só vez, pode acontecer várias vezes, pode nunca acontecer.
Será que a freqüência com que isso ocorre deve determinar um rótulo pra pessoa que deseja?
Na minha opinião, não.
O desejo se forma a partir das inúmeras referências de relação interpessoal que o indivíduo possui ao longo da vida, e isso pode ir mudando. Ou seja, se um cara que sempre namorou meninas, um dia sente desejo por um homem, isso quer dizer simplesmente que um dia ele sentiu desejo por um homem e que ele enfim pode decidir se irá ou não se relacionar com este homem, mas isso não precisaria colocar rótulos em seu desejo, como "ele virou gay". Até porque esse mesmo homem pode voltar a sentir desejo por mulheres. E isso não é questão de querer, isso simplesmente acontece.
Freud nos ensinou que nós nascemos com uma predisposição à bissexualidade, ou seja, que podemos naturalmente nos relacionar tanto com pessoas do mesmo sexo quanto com pessoas do sexo oposto. Ocorre que por questões reprodutivas, a sociedade incentiva mais a relação heterossexual, então desde pequenos somos incentivados a ter comportamentos heterossexuais. Mas esse incentivo não destrói a nossa predisposição à bissexualidade, então nossa capacidade homoafetiva permanece ali, passível de se desenvolver a qualquer momento. Ocorre que há pessoas cuja repressão da homossexualidade é tão forte que nunca houve sequer uma expressão de desejo homossexual em sua vida, mas em outras pessoas que não tiveram essa repressão, então podem sentir esse desejo homossexual/ homoafetivo, pois ele está lá.
É claro que numa sociedade que ainda incentiva mais o comportamento heterossexual, o comportamento homossexual passa a ser rotulado pejorativamente, passa a ser mal quisto, passa a ser incompreendido... E as próprias pessoas que têm desejos homossexuais às vezes reproduzem essa incompreensão, afinal estão na mesma sociedade.
Enfim, fica aqui uma espécie de conselho, por mais que eu deteste esta idéia de conselho, pois não serve pra muita coisa... mas se servir pra você que está lendo, aí vai: procure não colocar nem em si nem nos outros um rótulo que prende e angustia a quem o recebe. Viva livremente e responsavelmente sua sexualidade não tendo medo de expressar seu desejo. Viva sua intimidade intimamente, algo que é tão seu não precisa ser exposto, uma aceitação social não se dá desta forma, pode acreditar. Desencuque, e escreva se quiser conversar!

5 comentários:

Anônimo disse...

GENIAL! Adorei, Dani, vou divulgar, é exatamente o que muita gente precisa entender!

liane fialho disse...

prazer e transgressão são coisas que parecem, muitas vezes, caminharem juntas. o gosto que há no proibido... os sonhos são poderosos - até mesmo os não realizados e os que não se realizarão. a idéia do amor livre, por exemplo, nos parece uma utopia. nunca me senti homossexual. mas, em alguns casos, será que a experiência homoerótica e a fixação deste desejo não passa por aí? pelo poder trangressor do ato...

Anônimo disse...

Achei que precisava comentar alguma coisa sobre o texto, mas não há muito o que comentar, quando o texto parecem completo.
A propósito, existe alguém que questionou Freud? Deve existir; Gostaria de ler, porque lendo Freud é quase impossível de não simplesmente aceitar tudo o que ele pensava (isso me incomoda muito). Por hora, sobre tudo o que penso, e o que acho que deveria acontecer, concordo; Não somente por sentir um tipo de atração por meninas às vezes; e por namorar um menino, mas por compreender que as pessoas apenas 'são', só são, ou deveriam somente ser (nada nunca foi tão natural assim, ao meu ver). Mas não... Não apenas são, precisam exaltar o seu ser, no desespero de ser aceito (seja lá o que "escolheram" ser/fazer).

"Society, man, society" - Into the Wild.

E é isso que tiro do texto.
O que há de ser feito com a cabeça das pessoas, afinal? Tudo sempre parece perdido.

Obrigada, Dani.
(Apesar de achar que as pessoas estão perdidas no mundo desde sempre, a rodar.)

Sabrina

Vitória disse...

parabens Daniela! o texto ficou magnifico! não sabia dessa do freud, sabioa pouco na questão do que ele interpretava sobre isso. O mundo deveria ler teóricos assim antes de apontar para um pessoa e julgá-la. Parabens!

Anônimo disse...

Freud nos ensinou que nós nascemos com uma predisposição à bissexualidade, ou seja, que podemos naturalmente nos relacionar tanto com pessoas do mesmo sexo quanto com pessoas do sexo oposto?
NÃO CONCORDO COM SUA COLOCAÇÃO A RESPEITO DE fREUD, NÃO PODEMOS COMO PROFISSIONAL ORIENTAR A SEXUALIDADE DE FORMA DETERMINANTE, DIZER SE PODE OU NÃO, FALTOU UM POUCO DE PENSAR A RESPEITO DA SUBJETIVIDAEE.