Existe um grande medo de ouvir e seguir os próprios desejos se esses desejos são ainda mal compreendidos socialmente.
É muito natural que em algum momento da vida uma pessoa sinta atração sexual, desejo por outra pessoa do mesmo sexo. Isso pode acontecer uma só vez, pode acontecer várias vezes, pode nunca acontecer.
Será que a freqüência com que isso ocorre deve determinar um rótulo pra pessoa que deseja?
Na minha opinião, não.
O desejo se forma a partir das inúmeras referências de relação interpessoal que o indivíduo possui ao longo da vida, e isso pode ir mudando. Ou seja, se um cara que sempre namorou meninas, um dia sente desejo por um homem, isso quer dizer simplesmente que um dia ele sentiu desejo por um homem e que ele enfim pode decidir se irá ou não se relacionar com este homem, mas isso não precisaria colocar rótulos em seu desejo, como "ele virou gay". Até porque esse mesmo homem pode voltar a sentir desejo por mulheres. E isso não é questão de querer, isso simplesmente acontece.
Freud nos ensinou que nós nascemos com uma predisposição à bissexualidade, ou seja, que podemos naturalmente nos relacionar tanto com pessoas do mesmo sexo quanto com pessoas do sexo oposto. Ocorre que por questões reprodutivas, a sociedade incentiva mais a relação heterossexual, então desde pequenos somos incentivados a ter comportamentos heterossexuais. Mas esse incentivo não destrói a nossa predisposição à bissexualidade, então nossa capacidade homoafetiva permanece ali, passível de se desenvolver a qualquer momento. Ocorre que há pessoas cuja repressão da homossexualidade é tão forte que nunca houve sequer uma expressão de desejo homossexual em sua vida, mas em outras pessoas que não tiveram essa repressão, então podem sentir esse desejo homossexual/ homoafetivo, pois ele está lá.
É claro que numa sociedade que ainda incentiva mais o comportamento heterossexual, o comportamento homossexual passa a ser rotulado pejorativamente, passa a ser mal quisto, passa a ser incompreendido... E as próprias pessoas que têm desejos homossexuais às vezes reproduzem essa incompreensão, afinal estão na mesma sociedade.
Enfim, fica aqui uma espécie de conselho, por mais que eu deteste esta idéia de conselho, pois não serve pra muita coisa... mas se servir pra você que está lendo, aí vai: procure não colocar nem em si nem nos outros um rótulo que prende e angustia a quem o recebe. Viva livremente e responsavelmente sua sexualidade não tendo medo de expressar seu desejo. Viva sua intimidade intimamente, algo que é tão seu não precisa ser exposto, uma aceitação social não se dá desta forma, pode acreditar. Desencuque, e escreva se quiser conversar!