Tenho uma tendência a assistir a TV Cultura nos domingos à noite para ouvir o Psicanalista Contardo Calligaris falar, e um dia desses ele falava sobre o casamento. A frase foi mais ou menos essa: Eu tenho mais medo que ela se traia do que me traia.
Quantas reflexões a respeito... O que seria trair-se? Seria trair os próprios desejos, as próprias vontades. É bastante nobre alguém que aguente que o outro ao seu lado siga seus próprios desejos, e da mesma forma é nobre descobrir e ir atras dos seus. Talvez seja esse o casamento que mais dê certo, pois não haveria cobranças do tipo: eu não fiz aquilo o que eu tanto desejava porque eu estava ao seu lado. E ainda que não houvesse cobranças "formais", haveria uma culpa interna por ter traído sim os próprios desejos. Creio que se ambos do casal conseguem realizar seus desejos, mesmo quando seus desejos não coincidem e eles não realizam coisas juntos, e se ainda assim eles continuam se amando e suportando isso sem apegos desnecessários, esse casal deve ter feito muita análise.
Talvez o ciúme seja quase uma inveja de que o outro passe a realizar o seu desejo por outra pessoa, coisa que o ciumento não tem a coragem de fazer.
2 comentários:
gostei bastante do texto. casamento envolve amizade e apego. até os bichos sentem ciúme. pelo fato de sermos todos nós muito egoístas, queremos exclusividade sobre o que julgamos bom pra gente. se achamos nosso cônjuge valioso, queremos nos apropriar de tal valor. não fosse assim, não precisaríamos morar na mesma casa, dormir na mesma cama, trazer a pessoa querida tão próxima. sentimento de posse e ciúme são inevitáveis pra muitas pessoas. fugir disso requer uma segurança pessoal muito grande, uma auto estima muito grande: coisa que falta à maioria dos brasileiros. eu diria à maioria das pessoas no mundo inteiro. por outro lado, um total desapego poderia tornar-nos muito solitários. a vida é complicada. mas, ainda assim, doce.
um dos problemas do casamento está ligado à questão do poder. toda relação humana tende a trazer em si uma disputa por poder. as pessoas tendem a eleger o mais forte. quando um conjuge elege, aceita a idéia, de que o outro é mais forte e ele mais fraco, ele tende a ser "o ciumento" da dupla. reverter isso não deve ser tarefa fácil. um equilíbrio de forças, assim como o reconhecimento do próprio valor, o reconhecimento, sobretudo, de que se pode ser desejável por outros, seria talvez uma solução.
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