segunda-feira, 28 de setembro de 2009

A linguagem dos sonhos

Os sonhos sempre se nos apresentam como um enigma a ser decifrado, nele a linguagem parece desconexa, sem sentido... é necessário um trabalho de análise para compreender o que o nosso inconsciente nos diz.
A interpretação de um sonho é um trabalho que requer associações livres de censura, para aos poucos desvendarmos o desejo encoberto pelas sobreposições de imagens que o sonho traz.
Penso que o sonho é como a linguagem poética, que possibilita inúmeros caminhos de compreensão. Um poema quando é escrito, externa algo muito particular de quem o escreveu, e nem sempre é possível compreender o sentido completo que o escritor quis dar.
Um poema quando é lido, pode gerar no leitor sentimentos e sensações muito diferentes daquelas que sentia o escritor. E cada leitor pode ter uma reação diferente frente àquela linguagem poética.
O sonho permite o mesmo fenômeno. O conteúdo do sonho só pode ser desvendado pelo próprio sonhador, o analista só faz facilitar o caminho. Conteúdos semelhantes em sonhadores diferentes, certamente dizem respeito a desejos diferentes.
Nossa mente é repleta de conteúdos que foram sendo depositados, como um baú velho, precisa ser aberto e mexido, para relembrar, para reencontrar, para reviver e para resignificar.
Finalizo o texto com um pequeno poema, arriscando-me nesta bela linguagem:
Encontro
onde anda lembrança
ontem ainda via
antes à mente vinha
quando virá de novo
o antigo que em mim
habita

PS.: agradeço aos comentários dos textos anteriores, caso desejem, escrevam no e-mail: danismid@usp.br

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Outra personalidade ao volante

Outro dia meu irmão perguntou-me porque algumas pessoas aparentemente tranqüilas se transformam em monstros ao volante. Na hora não refleti sobre o assunto, mas vou tentar algo aqui.
O indivíduo que ao andar nas calçadas esbarra em outro e pede desculpas, quando sentado frente ao volante, enfurece quando um esbarrão ou a possibilidade premente dele ocorre.
Uma das hipóteses é a de que dentro de um veículo, um certo poder é conferido ao indivíduo. Um poder de domínio e controle sobre a máquina, um poder de saber interagir perfeitamente com aquele invólucro metálico, e ainda de saber se movimentar perfeitamente no asfalto. Esse poder não existe no homem despido de uma armadura que esbarra em outro.
Suponho que o homem que é investido desse poder quase bélico e desse pleno saber sobre seu espaço automobilístico se julgue único e além disso perca a noção de que é apenas humano, pois sua armadura metálica torna-se parte de si.
Um homem armado é mais corajoso a enfrentar duelos do que um homem despido de armamento, ou armadura. E não só mais corajoso como mais desafiante.
Um homem corajoso, desafiante, armado, único, quando é desafiado em seu poder por alguma outra máquina que ultrapassa em sua frente, julgando ser ele menor, mais frágil, menos potente, é suficiente para colocá-lo louco para provar sua capacidade sobre-humana.
Este homem-máquina não vê homens despidos de armadura, vê outros homens-máquina que disputam seus espaços, suas colocações nas filas do trânsito, suas acrobacias automobilísticas.
Fora de suas armaduras, voltam a ser cordiais humanos que sorriem ao se esbarrarem, pois sabem-se carne e osso.