As instâncias psíquicas denominadas Id, Ego e Superego, em sua formação, têm aspectos constitutivos e adquiridos, ou seja, pode-se dizer que há algo de originário em nossa mente, mas grande parte desse psiquismo se perfaz ao longo de infinitas interações com os outros e com o ambiente.
Os outros e o ambiente são variáveis impossíveis de controlar.
Quando um casal planeja ter um filho, e sua situação permita esse e outros planejamentos, há freqüentemente o desejo de escolher um futuro para esse filho, e aí começa uma grande empreitada dos pais para tentar controlar as variáveis disponíveis na vida do filho.
Há no mínimo 4 décadas a sociedade vem experimentando as conseqüências da forte inserção da mulher no mercado de trabalho, mulher esta antes incumbida de se casar, ter filhos e cuidar da casa.
Todo esse novo ambiente e essas novas mulheres geram (e aqui a palavra gerar é interessantemente adequada) novos filhos, filhos capazes de novas coisas.
Outro dia uma colega com quem estudei disse-me que uma de suas aluninhas de 3 anos perguntou o seguinte: - Fabi (esse é o apelido de minha colega), porque o papai não tem xoxota?
E essa pergunta, podendo parecer simples e desimportante, é um marco social. Explico.
Desde Freud acredita-se que a menina, em seus 5 anos mais ou menos, passa por uma fase em que percebe que seu amiguinho tem pipi e ela não tem. Ou seja, instaura-se na menina a falta, a percepção de que falta algo nela.
No entanto, na situação contada acima, a menina percebe a falta no menino (no pai).
Isso tudo faz pensar que a nova mãe de hoje pode (às vezes sem querer) incluir variáveis na vida da filha que a coloque numa situação de não falta, mas de positividade, de completude.
Há muito o que se pensar a respeito dessa situação, dessa nova geração que talvez possa ter seu psiquismo redimensionado pelas novas influências sociais.