quarta-feira, 3 de outubro de 2012

A metapsicologia do luto e melancolia

A metapsicologia freudiana pretende a descrição dos processos mentais a partir dos pontos de vista topográfico, dinâmico e econômico.
Os textos metapsicológicos de Freud são:
- Introdução ao narcisismo - 1914
- Pulsões e destinos da pulsão - 1915
- O recalque - 1915
- O inconsciente - 1915
- Complemento metapsicológico à teoria dos sonhos - 1917
- Luto e melancolia - 1917

Luto é um sentimento normal diante da perda de alguém ou de algo que seja valioso para o indivíduo, afeta todas as pessoas em algum momento de suas vidas, e é até necessário para que se possa realmente elaborar a perda e seguir em frente, à procura de objetos substitutos que ocupem o lugar do que/de quem foi perdido. O luto bem elaborado culmina com o resgate da libido e nova possibilidade de investimento.
Mas o luto pode se cronificar tornando-se melancolia. A melancolia é descrita por Freud como um quadro de suspensão de interesse pelo mundo externo, de acentuada diminuição da auto-estima, podendo até mesmo chegar a uma expectativa delirante de punição.
O melancólico se identifica com o objeto perdido, e a célebre frase "A sombra do objeto se abateu sobre o eu" descreve os estados depressivos hoje em dia.
A depressão e a melancolia estão ao menos um grau acima em relação à tristeza e comprometem a vida dos afetados de modo mais grave.
Freud destaca a apatia, o desinteresse, a anestesia sexual, o empobrecimento da excitação, que associa, à época, a uma hemorragia interna, como se a energia libidinal escoasse através de um ralo na esfera psíquica, daí a perda de vitalidade e o desinteresse pela vida.
Tanto no luto quanto na melancolia há sofrimento, no entanto no luto é clara a perda em questão, mas na melancolia não. "a pessoa sabe quem perdeu, mas não o que perdeu nesse alguém." (1917, p.243)
No luto o mundo se torna pobre e vazio, na melancolia o próprio eu do sujeito sofre esse processo de empobrecimento, esvaziamento e aridez.
O paciente melancólico se desvaloriza e auto-recrimina. Freud comenta que intervenções no sentido de tentar abrandar o discurso do paciente, defendê-lo de algumas de suas auto-acusações, se mostram inúteis e anti-terapêuticas, é preciso entender e dar espaço para que o paciente diga de si, e o analista deve entender qual a dinâmica fantasiosa em torno de sua auto-recriminação.
Neste texto, Freud ainda não tinha elaborado a segunda tópica, mas começa a compreender que há uma instância crítica que se coloca contra o Eu, o que viria a ser chamado depois de Superego.
Na melancolia, o melancólico não consegue simbolizar a perda, o que permitiria algum tipo de cicatrização, é como uma ferida aberta... Há uma extraordinária diminuição do sentimento de si, como se o melancólico estivesse destituído de auto-estima.
Pensando no homem contemporêneo, este sente-se insuficiente diante das pressões da competitividade econômica e das exigências de gozo que permeiam as relações afetivas. O deprimido de hoje não procura restaurar seu amor-próprio com objetivpo de cura, procura uma imagem ideal que o satisfaça e tenta se elevar a altura do ideal... o que é impossível, frustrante, traumatizante... O deprimido de hoje é capturado pela própria insuficiência.
A tecnologia de hoje aponta para superações do impossível, mudando radicalmente a dinâmica da castração, como se não houvesse limites. O luto fica sendo algo vivido como uma perda que poderia ser revertida, o que não ajuda nada no processo de elaboração.
As perdas ocorrem, apesar dos avanços tecnológicos...


Bibliografia - Nina Saroldi, Sigmund Freud e Jean-Michel Quinodoz