segunda-feira, 12 de março de 2012

Reportagem no portal Terra - Vila Mulher

Hoje saiu uma reportagem sobre casamento, tirada de uma entrevista que dei à repórter Bianca de Souza. O conteúdo completo da entrevista está aqui:

Entrevista para o site Vila Mulher

VM-Você acredita que se casar com o primeiro namorado pode diminuir as chances de um casamento longo?

O que vai determinar se um casamento será longo ou não, são inúmeras variáveis, desde a disposição e maturidade de se engajar num relacionamento com aquela pessoa, até a capacidade para lidar com os problemas do dia-a-dia. Não é só o fato de ter sido com o primeiro namorado ou a primeira namorada. É muito difícil generalizar. Mas ... é possível falar em algumas tendências.

Um autor que ficou muito conhecido por seu livro “Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos”, Bauman, coloca a questão de que o mundo moderno está em busca de relações descartáveis, ou seja, a sociedade consumista impõe que busquemos sempre algo novo e diferente ao invés de aceitar com maturidade as diferenças do que se tem, e nesta lógica estaríamos propícios a querer estar com alguém diferente a qualquer momento. E é difícil negar que estejamos vivenciando essa lógica do descartável, e por esta via, os jovens que casam-se com os primeiros namorados, tenderiam a desejar estar também com outras pessoas num futuro, o que resultaria em relação extraconjugal ou dissolução do casamento.

Então hoje é possível pensar “ah, eu vou casar, e se não der certo, eu separo.” O que não era muito pensável há 40 anos atrás.

No entanto volto a afirmar, isto pode ser visto como uma tendência, mas não reflete inteiramente a multiplicidade e complexidade das experiências individuais.

VM-Como esse fator pode interferir no destino do casal?

O casal pode, desde cedo, estar muito engajado no relacionamento e seguir com maturidade enfrentando dificuldades e se implicando na resolução de conflitos juntos, e ainda ter uma vida sexual satisfatória que prescinde do desejo de estar com outra pessoa. Mas se um dos dois, ao longo do tempo, ficar insatisfeito com sua escolha conjugal, se houver desejo de conhecer outras pessoas ao longo desta união, vai se colocar uma questão que pode de fato interferir no destino deste casal enquanto casal.

Num relacionamento é impossível afirmar que haverá capacidade de ambos de lidar com os problemas e com o eventual desejo de conhecer outras pessoas, e isso pode se agravar quando se trata de um primeiro relacionamento, onde as pessoas estão conhecendo a si mesmas e ao outro, e conhecendo seu modo de interagir com o outro.

O fato de não ter conhecido outros homens pode gerar um dúvida sobre os sentimentos da esposa pelo companheiro, após anos de casamento?

Não ocorre com todas as mulheres, mas é muito comum. As dúvidas não são só dos sentimentos da esposa pelo companheiro, ou seja, pôr em questão se ela sentiria mais ou menos desejo e atração por outro homem que não seu companheiro, mas também dela se questionar se seria atraente para outro homem também, além do seu companheiro, se o seu companheiro se sente atraído por outras mulheres, são vários os questionamentos. E os casais que lidam com isso, tentam resolver isso de diversas formas... às vezes não lidam, negam pra si mesmos que exista alguma dificuldade, às vezes cada um busca sozinho conhecer outras pessoas numa relação extraconjugal, sem lidar com isso dentro do relacionamento. E lidar com isso dentro do relacionamento pode implicar ter que pensar em não estar mais com aquela pessoa com quem se casou e isto se torna às vezes algo muito difícil de se enfrentar.

VM-Isso tem o mesmo efeito sobre o homem, aquele que se casa com a primeira namorada?

Sem dúvida, da mesmo forma, as mesmas questões. Quando existem...

VM-Há alguma recomendação para casais nestas situações. Por exemplo, terapia de casal ajudaria?

A terapia de casal pode ajudar muito sim, auxilia o casal a encontrar saídas para suas dúvidas e sofrimentos, ajuda a amadurecer e enfrentar os problemas juntos quando a disposição de ambos é esta, mas nem sempre é... e as vezes a saída escolhida pelo casal é mesmo se separar e buscar ser feliz sozinho ou com outra pessoa. E a terapia ou análise individual são muito importantes, mesmo se a pessoa já tiver passado por terapia de casal, ou ao invés da terapia de casal, pois muitas vezes é difícil expor estar questões pro parceiro ou parceira e são necessários momentos de reflexão consigo mesmo, até pra reconhecer seus desejos e dúvidas.

Daniela Smid Rodrigues é psicóloga formada pela USP, psicanalista e tem especialização em sexualidade. Seu consultório fica em Pinheiros, São Paulo. E-mail para contato, duvidas ou agendamento de consultas: daniela.smid@gmail.com